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A Saúde Mental na Reprodução Assistida: precisamos pensar sobre isso

*Por Laudiane Cruz



O dia 10 de outubro, instituído pela Federação Mundial de Saúde Mental em 1992 como o 'Dia Mundial da Saúde Mental', marca uma oportunidade crucial para refletirmos sobre a saúde em sua totalidade, indo além do corpo físico. A data nos convida a reconhecer a importância dos cuidados com a saúde mental e seu impacto no bem-estar geral.


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) o Brasil possui a população com a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo. Um outro dado expressivo é sobre o aumento do uso de psicofármacos, utilizado como substância química para tratamento das doenças de ordem psíquica.


No contexto da Reprodução Assistida, é comum que os pacientes cheguem ao tratamento já carregando uma bagagem de tristeza e frustrações devido à dificuldade de engravidar. Muitas vezes, essas histórias são marcadas por perdas dolorosas ou por condições que tornam a jornada ainda mais desafiadora, impactando profundamente a experiência de tentar ter um filho.


Apostar na ciência como forma de tratar a infertilidade reúne uma alta probabilidade de a gravidez ser possível. Uma Fertilização In Vitro (FIV), por exemplo, é o que a ciência tem de melhor a oferecer podendo obter chances de até 60% no tratamento. Mas então surgem questões: como o paciente que já chega abalado pode acreditar no tratamento? Por outro lado, apostar todas as fichas será que é um bom caminho? E se o tratamento não der certo? Como se proteger desse mal psíquico que um resultado negativo pode causar?


É importante considerar o corpo humano como uma unidade integrada, e não como uma dicotomia entre mente e corpo. Nesse contexto, o aparelho psíquico responde às intervenções no corpo biológico, tornando a saúde mental essencial para o sucesso dos tratamentos. Assim, a presença de um psicólogo no Centro de Reprodução, atento às questões psíquicas e aos impactos que o tratamento pode gerar, faz uma diferença



significativa.


Os pacientes submetidos ao tratamento também devem se interrogar sobre a sua saúde mental e pedir ajuda profissional sempre que observar embaraçado com suas questões de angústia. Sentimentos como medo, ansiedade e ‘pré-ocupação’ podem invadir esse processo. O acompanhamento psíquico proporciona um espaço de escuta capaz de trazer clareza e aliviar o peso emocional desses momentos difíceis. Dessa forma, com uma escuta clínica particularizada, o paciente pode tratar não apenas sobre o que seu corpo biológico manifesta, mas também sobre sua posição subjetiva em relação a ele.


A experiência prática como psicóloga no Centro de Reprodução Assistida revela que os pacientes que cuidam de suas questões psíquicas enfrentam o tratamento de forma mais leve e tomam decisões difíceis com menos angústia. Além disso, aqueles que têm acompanhamento psicológico mostram maior resiliência, conseguindo lidar melhor com o processo e repetir o tratamento quando necessário, mesmo após tentativas frustradas.



* Psicanalista, Psicóloga responsável pelo Setor de Psicologia do Centro de Medicina Reprodutiva Origen. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA). Especialista em Reprodução Assistida pela SBRA.

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